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Destaques

Fluxo de incosistência

       Eu sempre acreditei que na criação de um livro envolvia um processo contínuo. Você escreve e tudo se conecta por bater a cara e estar conectado, porque assim é que eu achava quando lia.      Depois de prefácios magníficos em sua intenção, tudo vem em um fluxo direto, como se fosse planejado de ponta a ponta, bem em contra ponto a como eu escrevo aqui: Espontâneo, as vezes até demais. Pois só tantas vezes o que vem "do nada" é tão original quanto pretende-se a ser por vir "do nada".     Mas,  um livro se difere tanto disso ? não sei, pra ser bem franco. Também fui de crer que uma afirmativa sem duvida sempre vem de resultado de uma convicção sem divida na consciência. Entretanto, literalidades assim geram mais neuroses niilistas do que uma pós-verdade de princípio.     Acho importante querer se pôr na confusão uma vela que nada garante ser tão firme como concreto, já que não é toda loucura dizer que a conclusão do puro ra...

Um ensaio sem Casmurro, sobre Casmurro, talvez com dom - Introdução ao Interlúdio

    Uma das perguntas indiscutivelmente mais antigas - e clichês - da literatura que alunos são dados a ler é a do simples veredito binário: Capitu traíste? E me deu o gosto de tentar responder essa pergunta me levou até aqui, uma micro-epopeia-prosática-subjetiva que tenta responder essa pergunta mais que centenária. Aqui  apenas possui um pre-texto de tal argumentação, acho que vou escrever mais 3 posts do que isso daqui pra concluir alguma resposta - por mais que pudesse fazer um único grande, pessoalmente prefiro dividi-lo então assim fiz. Então sem mais delongas:

1-1: Axiomas a serem tomados

    Antes de qualquer tipo de argumentação eu gostaria de firmar duas concepções que eu tomo como axiomas para o que venho dissertar, não acho que elas são firme em concreto, mas acho interessante ir desses olhares cujo forma são:
    

    1. A transição de Bentinho a Casmurro pela Saída

    As distorções conforme o enredo dos fatos contados se divergem em gravidade com o ponto central em "A Saída", com uma agravação maior dessa distorção a partir desse capítulo.  O Pré-saída e Pós-saída ambos passam um tom de ambiguidade e de intenção de convencimento de meias-verdades.

    Mas creio eu que as memórias mais antigas de Bentinho se sobressaem ao prelúdio do que veio a se tornar Dom Casmurro, então mesmo com as intenções de Dom Casmurro serem idênticas, como elas acabam relatando com os fatos se difere devido ao que resta de Bentinho vivo e pulsante em tais memorias, o Bentinho ingenuo que não demonstrava, pelo menos explicitamente, as intenções de inveja e suspeita para mudarem o olhar do seu mundo a algo necessariamente chego a inverdade

    Eu creio nesse ponto de divisória, por mais que não seja ali aonde Bentinho e Casmurro comecem a se confundir de fato, pelo meio de alguns pontos:

        1. As formas que o namoro e o casamento de Bentinho e Capitu são até que similares, mas também bem diferentes. A ânsia da dúvida de possíveis olhos cerrados ao comprometimento existem em ambos os casos, mas sinto eu que durante o namoro de ambos elas são mais concretas, mas também menos severas, mais calmas e objetiva, como de um tempo já no passado - que suponho eu para Casmurro definitivamente está, com os contrapostos da relação mais alinhados e nivelados, como um olhar do velho Casmurro para o novo Bentinho.
    Enquanto de contra-partida existe um ar de desespero mais profundo e polares mais distante durante o casamento, enquanto as tramas e consequências do namoro parecem de certa forma concluídos, os problemas do casamento definitivamente não cicatrizaram. Estancados com uma desesperada massagem de bom gosto para justificar a importância dela ainda estar sangrando, mas ao mesmo tempo enfiando estacas dentro da própria ferida para justificar o ódio a pessoa que causou sua ferida, de certa forma mais imaturo, de certa forma mais direta e de certa forma mais caótica em sua análise, assim deixando muito em aberto de tal momento, parecendo como se fosse o novo Casmurro olhando para um velho Bentinho.

        2. O detalhamento do relato de Casmurro é explicitamente diminuído durante esse ponto marcante aonde a promessa de casamento de Capitu e Bentinho definitivamente se concretiza numa realidade. É dito ai por ser pela menor quantidade de folhas para seu livro e eu acho respeitável assumir o ponto assim por ai. 
    Mas creio eu ser uma meia verdade que ofusca pretensões maiores que explicarei no próximo axioma, mas assumindo pela verdade, ou pelo menos meia-verdade, a fala de Casmurro ainda sim é um ponto divisório na narrativa, com o sonho de amor da infância finalmente se concluindo no que seria um fim numa literatura romântica, assim a figura de Casmurro assumindo mais papel no que se é visto do que propriamente a de Bentinho na história dos relates

    2. A traição de Casmurro a suas memórias

    Creio eu que tem muito escondido da explicação de Casmurro na falta de páginas, superficialmente e literalmente. Creio eu que em momentos como a acusação da infidelidade de Bentinho/Casmurro a Deus por Capitu e os dedos entrelaçados entre Sancinha e  Bentinho/Casmurro naturalmente deixam a desejar explicações. Entretanto de uma maneira meio desalinhada com outros momentos assim do texto, como se fosse um texto que perdeu seu prefácio.
    Acabando nesse limbo, acho eu, pela ferida que ainda continua escancarada durante o momento da escrita, como essa ferida se transita para essa falta de informação acho difícil dizer. Esquecimento de algum trauma, ambiguidade forçada pela vergonha de descrever por completo o plano, uma escolha seletiva dos fatos para deduzir alguma narrativa. Todos são plausíveis mas o que mais importa ainda continuaria o mesmo: Não se tem toda a história contada em letras, talvez em emoções, mas não por meio das letras pintadas por Casmurro em seu livro.
    Contudo acho que também é plausível colocar algum distúrbio que o agravaria a se deturpar as memórias. Essa ideia não é nada incomum nas análises que se tem de Dom Casmurro, mas acho interessante algo similar a uma demência como Alzheimer na culpa da traição, em estágios iniciais é claro. As ultimas memórias a serem perdidas são as primeiras que se formam por um motivo, então ainda seria coerente com o primeiro axioma.
    Seria de certa forma um anacronismo, mas essa análise como muitas outras já é anacrônica em sua essência, como todas as análises de um passado pelo menos um pouco distante, as transgressões do fim do século XIX e o começo do século XXI são em certa medida inevitáveis.
    Então acho interessante assumir isso em análise, o que se lê e o que se escreve são dois livros diferentes, então com esse espirito que o resto se navegará.

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