Pular para o conteúdo principal

Destaques

Complexo de Interlúdio

  Olhas no meu rosto como fostes a partitura de um projeto vil. Contando em todas as pétalas do desejo o que te faz viril. Faz de seu pós o eterno pós, a mudança dos horizontes o pesadelo vivo Enganas a si e somente a si das virtudes injustiçadas pelo momento. Orando todo dia para não ser feito leito das areias Enquanto anseia a próxima vez que seus olhos torne-se musa de mascaras.   Vivo eu cá, a adornar o roteiro flácido de sua jornada como perdido. Lembro-me do teu nome para não esqueceres dele. Narro te como uma mãe que reza perante ao túmulo de seu filho Para poder acordar vendo-o salvar o mundo.   Contudo, apenas é como eu me visto, meu Sebastião. Quem dera fosse eu Satanás, meu cristo Largava-te a menor das satisfações Com paciência de perna curta.   Aprendi que te amo a puro olhos de cria Cria essa que nunca se apegou ao mundo. Olhando seu criador aos poucos ser defunto Desejando mais do que magia de família.   Então, me perdoe meu amado Pois meu veleiro...

Em lance à mar

         Quando cheguei de mar a mar, nunca imaginei que meu trabalho, e a vida que levei junto com ele, fosse recheada de tesouros dignas de estarem em Iliadas, Lusíadas ou Brazilias. A maior das glórias contratualmente obrigadas que a mim foram garantidas é a "responsabilidade da carga e possessões do Reino sob minha jurisdição"
    Jurisdição essa que menos se resume a gritar com mouros cujas qualificações derivaram da clarividência do desembargador em tentar descobrir traços de Deus em um corpo de Alah pela decência de "sangue azul"
    Contudo, chega de mim e desses mouriscos! Não custeio de forma efêmera o meu tempo e contos. Pareço turvo ao que estou prestes a dizer, mas creio que achei um individuo merecedor de meu respeito escrito, mesmo que sua aparência seja das mais questionáveis. 
    Muito difícil é encontrar viajantes do Saara sozinhos, suspeito eu de que os mercantes silenciosos utilizam de alguma bruxaria para sustentar toda a podridão carregada pelos vultos de loucura que sustentam a existência do deserto. Por isso, quando veio me uma figura ao horizonte dediquei-lhe toda atenção
    Cornetas e trombetas permutavam em corais de cactos, de longe aparentava ser um ancião. Batuques arranhavam meus ossos. Cerrando os olhos virava um dos monstros de folclore negroide. Abrindo-os por inteiro me cegava a moldes de um imperador de todas as dunas.
    Pelo menos assim que meus olhos disseram, cerrei até demais a vista e vi um peregrino mais decadente que meu avô a um pé de embarcar para Portugal. Os mares, fortes e barcos tem outras interpretações para aqueles que tem o desejo de escapar do sofrimento de falta de escolha.
    Dormes como nobre para acordar degradado ao Brasil, e meu avô pareceu sempre imerso nesse sonho, mesmo que a terra que ele se absorveu fosse tudo mais do que o sangue azul fosse o dar. Mas, mesmo assim, a dor do degredo é de ter o espírito deslocado contra o seu favor, alimentado ainda mais pelo seu orgulho do antes que era tudo comparado ao agora vazio.
    Bom, acho que não é necessário dizer que o enterro foi uma ironia que o fez dormir para sempre no pesadelo. Não teve defunto a admirar e chorar mas eu imaginei o rosto patético dele encoberto de glorias que satisfaziam a todos menos ele.
    Esse mesmo rosto facultativo se transpôs ao homem desabar ao chão, gemendo murmúrios e loucuras. E, como fiz de meu avô até seu leito, pus com força o humano sobre objeto e deixei o deleitar em minha cama, dando-me contos a contar.

Postagens mais visitadas