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Destaques

Em lance à mar

          Quando cheguei de mar a mar, nunca imaginei que meu trabalho, e a vida que levei junto com ele, fosse recheada de tesouros dignas de estarem em Iliadas, Lusíadas ou Brazilias. A maior das glórias contratualmente obrigadas que a mim foram garantidas é a "responsabilidade da carga e possessões do Reino sob minha jurisdição"     Jurisdição essa que menos se resume a gritar com mouros cujas qualificações derivaram da clarividência do desembargador em tentar descobrir traços de Deus em um corpo de Alah pela decência de "sangue azul"     Contudo, chega de mim e desses mouriscos! Não custeio de forma efêmera o meu tempo e contos. Pareço turvo ao que estou prestes a dizer, mas creio que achei um individuo merecedor de meu respeito escrito, mesmo que sua aparência seja das mais questionáveis.      Muito difícil é encontrar viajantes do Saara sozinhos, suspeito eu de que os mercantes silenciosos utilizam de alguma bruxaria para...

Memorial em eterna construção

     As memórias mais profundamente impactadoras podem ser as mais camufladas dentro do eu que é alguém. Se camuflando em um resto de aborto de momentos que mais infiltram a alma em contradição com o consciente do que se assume estar no passado, contorcendo em ambiguidade sorrateira, aonde apenas o futuro permite que se invada tal castelo de palha.

    A cicatriz esconde o desconforto que a provocou, ou a resolve? Se entende o que a cicatriz significa e influência depois das emoções dela surgirem. Doí mais saber o que o sofrimento fez-se perder do que ele próprio. Não que se de para culpar o olho em meio das lágrimas, seria como culpar a criança por ser infantil por natureza de seu lugar.

    Mas como o adulto perdoa a si, pela infância que provou do veneno, pecado que fez da figura de deus a semelhança dos homens. Gritos não condizem com o momento, o momento é sempre calmo e sereno. Assim, trazendo o nu, cru e amargo pelos ventos que provocam.

    Mas não, nunca vem as lagrimas, as régias que seguram a Torre de Babel em busca do melhor sereno não se destroem. Mas a água salgada esconde o terror que veio a toda luz de fertilidade do arquiteto, todos os risos e abraços, todas as vitórias e sobressaídas das derrotas, elas iluminam o cruel do efeito de ser imperfeito.

    O imperfeito pode ser aceitável, e talvez até deva, mas o imperfeito não cria perdão em seu resultado, o que há de adiantar a trilha de pântanos e sangue, amarguras e soluços. Noites sem soluções que vieram a ser tinta para planos inimagináveis em estado passado. Tudo já se foi, consolidou na memória outorgada no pretérito que se sonha ser perfeito.

    Em fim, o perfeito não é adequado a esse momento de graça de viver, pertence ao túmulo aonde o desespero de fazer finalmente se sucumbe a graça de satisfação de poder ter tido o privilégio de respirar ares.

    E essa memória encarnecida de momentos agora alheios se choca com a direção da torre, não que faça-me chorar é claro, mas seria mais fácil deixar as lágrimas virem e adiar o dia de aceitar que essa contradição existe. Entretanto, infelizmente para o agora e felizmente para o futuro, elas sangram por uma última - ou pelo menos desejo como última vez, como um resto da cicatriz, eterna em sua formação de mim e sempre mutável em sua influência que nada resta a mim se não conforma-me e tirar um sorriso disso. 

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