Pular para o conteúdo principal

Destaques

Colchão do fundo do poço

          Eu sempre fui dar mais valor - ou pelo menos achar que tem mais valor - por ela ter um olhar negativo, pessimista. Não de que o contrário seja verdade, ou de que ter preferência ao trágico seja trágico por si só. Mas, pelo menos pra mim, acho que é muito mais um apego pra adequar o que se vê ao que se sente, justificado por um "elitismo intelectual"      Nada mais chamativo ao depressivo achar-se absolvido de culpa por uma consequência da sociedade aonde ele nada tem como agir contra, matando qualquer culpa e qualquer sonho a fim de normalizar uma dor.      Uma caricatura do que em essência somos - e sempre seremos - em podridão, podridão essa destinada a ser o fim por cantos de seu nascimento. Muito mais chamativo e de aparência "fora do comum" do que contar sobre ingenuidade, risos e o cotidiano mundano que é visto como simplório.       Então assim que eu vivi por um bom tempo, não acho que não t...

Memorial em eterna construção

     As memórias mais profundamente impactadoras podem ser as mais camufladas dentro do eu que é alguém. Se camuflando em um resto de aborto de momentos que mais infiltram a alma em contradição com o consciente do que se assume estar no passado, contorcendo em ambiguidade sorrateira, aonde apenas o futuro permite que se invada tal castelo de palha.

    A cicatriz esconde o desconforto que a provocou, ou a resolve? Se entende o que a cicatriz significa e influência depois das emoções dela surgirem. Doí mais saber o que o sofrimento fez-se perder do que ele próprio. Não que se de para culpar o olho em meio das lágrimas, seria como culpar a criança por ser infantil por natureza de seu lugar.

    Mas como o adulto perdoa a si, pela infância que provou do veneno, pecado que fez da figura de deus a semelhança dos homens. Gritos não condizem com o momento, o momento é sempre calmo e sereno. Assim, trazendo o nu, cru e amargo pelos ventos que provocam.

    Mas não, nunca vem as lagrimas, as régias que seguram a Torre de Babel em busca do melhor sereno não se destroem. Mas a água salgada esconde o terror que veio a toda luz de fertilidade do arquiteto, todos os risos e abraços, todas as vitórias e sobressaídas das derrotas, elas iluminam o cruel do efeito de ser imperfeito.

    O imperfeito pode ser aceitável, e talvez até deva, mas o imperfeito não cria perdão em seu resultado, o que há de adiantar a trilha de pântanos e sangue, amarguras e soluços. Noites sem soluções que vieram a ser tinta para planos inimagináveis em estado passado. Tudo já se foi, consolidou na memória outorgada no pretérito que se sonha ser perfeito.

    Em fim, o perfeito não é adequado a esse momento de graça de viver, pertence ao túmulo aonde o desespero de fazer finalmente se sucumbe a graça de satisfação de poder ter tido o privilégio de respirar ares.

    E essa memória encarnecida de momentos agora alheios se choca com a direção da torre, não que faça-me chorar é claro, mas seria mais fácil deixar as lágrimas virem e adiar o dia de aceitar que essa contradição existe. Entretanto, infelizmente para o agora e felizmente para o futuro, elas sangram por uma última - ou pelo menos desejo como última vez, como um resto da cicatriz, eterna em sua formação de mim e sempre mutável em sua influência que nada resta a mim se não conforma-me e tirar um sorriso disso. 

Postagens mais visitadas