Colchão do fundo do poço
Eu sempre fui dar mais valor - ou pelo menos achar que tem mais valor - por ela ter um olhar negativo, pessimista. Não de que o contrário seja verdade, ou de que ter preferência ao trágico seja trágico por si só. Mas, pelo menos pra mim, acho que é muito mais um apego pra adequar o que se vê ao que se sente, justificado por um "elitismo intelectual"
Nada mais chamativo ao depressivo achar-se absolvido de culpa por uma consequência da sociedade aonde ele nada tem como agir contra, matando qualquer culpa e qualquer sonho a fim de normalizar uma dor.
Uma caricatura do que em essência somos - e sempre seremos - em podridão, podridão essa destinada a ser o fim por cantos de seu nascimento. Muito mais chamativo e de aparência "fora do comum" do que contar sobre ingenuidade, risos e o cotidiano mundano que é visto como simplório.
Então assim que eu vivi por um bom tempo, não acho que não tenha sido inútil ou até mesmo ruim, mas querer viver só assim é querer viver como um espelho que reflete o pior dos outros - ele nunca tem motivo pra querer ver o melhor e muita menos vontade de querer colocar essa lente a si mesmo.
A consequência natural de ver tudo "realisticamente" é a apatia em relação ao futuro, a necessidade de justificar o otimismo em uma batalha aonde ele vive destinado a perder - porque nem tudo é racionável, e acho que poucas obras conseguem exemplificar isso melhor do que Tudo é Rio de Carla Madeira.
Eu não sabia como reagir a conclusão. Mas, em retrospectiva não é de propósito de eu como leitor querer julgar a decisão do perdão, decisão esta que vem muito mais do que uma resposta lógica de sim ou não.
Demanda muito mais de um afeto que é incongruente do homem ou de um deus querer decidir sua formula, indo muito além de qualquer pressuposto de bem ou mal ou formação de leis que regem a malevolência da humanidade. Por mais que isso doesse mais pra mim quando aos meus olhos apenas existia tragédia, acho difícil querer continuar nessa linha quando eu estou muito mais no rumo de "como eu quero viver" do que "posso viver feliz?" ou "eu quero viver?".